quinta-feira, 10 de março de 2011

NÓS DOIS


Alguns cruzam nosso caminho
embarcam no mesmo barco
dividem bancos e causos
e fazem morada
em nossos sentimentos.

Indecisos
outros passam
nem se deixam notar
seguem apressados
para habitar
o velho mundo
particular...

Assim vamos todos
sem duvidar
de nossas crenças e hábitos
aceitamos que o normal
seja comer, dormir,
trabalhar...

Num gesto inusitado
você endoidou os pólos
da bússula de meu barco
sentou-se do meu lado e,
com mistério e com carinho,
me mostrou novo caminho!


quarta-feira, 9 de março de 2011

SIMPLES

Simples e irradiando calor
meu amor me completa e persuade
sem medo e sem piedade.
Algumas vezes porém um ciume canibal
verte sangue de meus lábios e gengivas
risca meu dorso com unhas de gata bandida.
Nem adianta procurar a origem dessa ira
melhor dar um silêncio e esperar
a guria se acalmar.
Acontece que a turbulência se dá
porque nosso amor tem história
e geografia particular.

segunda-feira, 7 de março de 2011

NOS BRAÇOS DELA

As viagens da imaginação
quando vi as fotos dela
não alcançam as delícias
que me trouxe
paladares e sabores
do seu beijo

seu cheiro assopra 
as brasas do meu corpo
que delira
dá vontade de ficar colado 
como papel no carbono
pra carregar comigo
uma cópia dela inteira...

Somos um 
a razão de ser do outro
ligados como a semente 
o fruto e a flor
dependentes
como a parte
e a sua outra 

sem identidade
se não juntarmos 
nome número e foto
passaporte um do outro
como a lagarta e a borboleta
casulo e vida do outro
como crepúsculo e aurora
carentes do dia e da noite...

Quando ela me abraça
um clarão me atravessa
e o amor logo desperta
para nos tornarmos um.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uns & Outros - Rodolfo Witzig Guttilla




BASCHÔ REVISITADO

O outono se foi
ficou a grama amarela
e a remela
no olho do boi.



PALMAS PARA ELE

Aplauso de morte
o pernilongo
estava sem sorte.



MATINAS

5 da matina
logo estará claro
- Dá pra desligar o galo?!


VAZIO

No peito este vazio
oco como o estômago
de um cão vadio.


MOÇAS

Crise de solidão
ando piscando para as moças
da televisão.


30

Passei dos trinta
dor renitente nas juntas
mas ainda cheirando a tinta.


TEMPO

Tudo na vida passa
seu bronze há de virar pó
minha poesia fumaça.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O último viandante - Mario Quintana


Era um caminho que de tão velho, minha filha,
já nem sabia mais aonde ia...
Era um caminho
velhinho,
perdido...
Não havia traços
de passos no dia
em que por acaso o descobri:
pedras e urzes iam cobrindo tudo.
O caminho agonizava, morria
sozinho...
Eu vi...
porque são os passos que fazem os caminhos!



do livro A cor do invisível. Editora Globo, 1989.

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...