terça-feira, 4 de janeiro de 2011

TEU AMOR PERDEU O LUME


Escultura de Clara Fernandes




Teu amor
perdeu
o lume

e foi derrotado
pelo caos
do ciume...

Teu amor
é torto
e esquisito

já não me fascina
entrar
nesse labirinto.

Você se perdeu
na hora de montar
o quebra-cabeças
dos pensamentos

já vai tarde demais
pra se libertar
dos meus sentimentos. 

sábado, 1 de janeiro de 2011

2011





O tempo para deixar
a roupa suja de molho
e fazer o acerto de contas
pode ser a conta-gotas
ou pode ser num segundo...

Vamos ser
como a roupa
que seca no varal
suave ao vento
logo logo fica leve
e se livra dos ressentimentos...


Deixemos evaporar
nossos medos
que sejam nuvens
a povoar oceanos
e que levem consigo
toda a ganância...

Vamos inventar o dia
de um jeito alegre
e sempre que possível
com esperança!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

COM QUE ROUPA EU VOU...

Depois de revirar no balaio as experiências 
que juntei durante o ano
constatei que pensei mais 
com o estômago
pensei mais com o bolso
pensei mais com os outros
pensei mais com as manchetes de jornais.

Suo frio a cada campanha na TV,
desde educação para o trânsito
até os "preserve!", "respeite!", "não maltrate!"...

E ao imaginar uma arte
meu superego se inflama
e põe pra trabalhar
meu sentimento de culpa.

Não sei se devo levar a sério
as notícias de catástrofes
ou se devo permanecer indiferente
e me recolher no mundo da literatura...
Enquanto isso a TV 
superdimensiona os fatos
para ter mais IBOPE 
e me entope com propaganda 
de comida industrializada
cerveja e refrigerante...

Tantos ângulos, recortes, 
efeitos especiais e montagens
vestem meu caráter
e dizem qual deve ser
minha visão de mundo
e minha disposição 
pra encarar isso tudo...
Hoje eu não me pergunto:
"Onde estou?", "para onde vou?"
Vestido desse jeito
tenho até vergonha de perguntar:
"Com que roupa eu vou?"

sábado, 25 de dezembro de 2010

ELA CANSOU...

Ela cansou de tanto pensar.

Então, pra descansar a razão
e despertar os sentidos,
dei-lhe uma flor que roubei
de um desses jardins
de classe média.

Agora ela disse
que o amor apagou
a luz da razão
e fez moradia
na flor de sua pele...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O que o vento não levou - Mario Quintana

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:

um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha no dia do próprio vento...

do livro Acordo. Ed. Globo.

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...