terça-feira, 6 de abril de 2010
O suicídio do amor
A cerca limitava-se a tudo
e o sol espreitava
com a cabeça nas nuvens.
Era final de expediente
e o caminho da tarde
embriagou-se
de chuva.
Apressado
o amor avançava
a cada dois
lances de escada
mas quando chegava no topo
ruía ao chão
ninguém duvidava:
era o suicídio do amor.
domingo, 4 de abril de 2010
Sala de tortura
vamos ter em casa
coleções de mata-moscas.
Nas lojas de zero vírgula noventa e nove
centenas aguardam trabalho.
Os golpes altos e baixos
nos vão purificar
a cada inseto decepado.
Enfim teremos
uma sala
de tortura
em nosso lar.
Torturaremos ex-maridos, ex-mulheres,
ex-isso e aquilo, vizinhas fofoqueiras,
cães, gatos e os funcionários
da prefeitura.
Bateremos sem pudor
tristeza
alegria
ou vergonha
e ficaremos horas a fio
de tocaia em tocaia
atrás dos cantos escuros.
No verão a cidade
vai abrir suas comportas
a procissões de baratas
e ninguém vai querer perder
a novíssima
literatura.
Os Insetos
serão maestros
de todas nossas nóias.
coleções de mata-moscas.
Nas lojas de zero vírgula noventa e nove
centenas aguardam trabalho.
Os golpes altos e baixos
nos vão purificar
a cada inseto decepado.
Enfim teremos
uma sala
de tortura
em nosso lar.
Torturaremos ex-maridos, ex-mulheres,
ex-isso e aquilo, vizinhas fofoqueiras,
cães, gatos e os funcionários
da prefeitura.
Bateremos sem pudor
tristeza
alegria
ou vergonha
e ficaremos horas a fio
de tocaia em tocaia
atrás dos cantos escuros.
No verão a cidade
vai abrir suas comportas
a procissões de baratas
e ninguém vai querer perder
a novíssima
literatura.
Os Insetos
serão maestros
de todas nossas nóias.
sábado, 3 de abril de 2010
quinta-feira, 1 de abril de 2010
HAI-KAIS - de Alice Ruiz
Pensar letras
sentir palavras
a alma cheia de dedos
O menino me ensina
como um velho sábio
o quanto sou menina
O avião
apenas vai
quem voa sou eu
O relógio marca
48 horas sem te ver
sei lá quantas para te esquecer
Lembra aquele beijo
corpo alma e mente?
Pois eu esqueci completamente
Sem luto
pelo absoluto
só
ab
so
luto
Hai-kai:
tomara que caia
o raio
Ia sendo
não fosse entre nós
o extintor de incêndio
Janela que se abre
o gato não sabe
se vai ou voa
Dia que termina
nenhuma pressa
ano que começa
segunda-feira, 29 de março de 2010
Indiferença
Lábios e maxilares
amam a indiferença.
Os degraus da segunda-feira
culpam a terça-feira,
e atalham
o fim-de-semana.
Sou adolescente
refugiado no diário.
Papel de embrulhar presente
peixe enfeitando
o aquário.
A ilusão maquiou
rosto e olhos:
o beijo, o toque,
a presença
incandescente
quando chamar
e enfeitar os cílios.
Desisti de sonhar.
A utopia coça
o meu nariz
e me diz
que todos estão
muito iguais.
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