terça-feira, 9 de março de 2010

RETRATO DE MULHER TRISTE - CECÍLIA MEIRELES

Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.

Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.

Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
pois jamais se viveu com tanta plenitude.

Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Vinicius de Morais - homenagem às mulheres



Uma mulher tem que ter
qualquer coisa além de beleza,
qualquer coisa de triste,
qualquer coisa que chora
qualquer coisa que sente saudade.

Um molejo de amor machucado,
uma beleza que vem da tristeza,
de se saber mulher,
feita apenas para amar,
para sofrer pelo seu amor
e para ser só perdão.

domingo, 7 de março de 2010

DIA INTERNACIONAL DA MULHER


História do 8 de março – dia internacional da mulher

No Dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.


A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano.


Porém, somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Objetivo da Data

Ao ser criada esta data, não se pretendia apenas comemorar. Na maioria dos países, realizam-se conferências, debates e reuniões cujo objetivo é discutir o papel da mulher na sociedade atual. O esforço é para tentar diminuir e, quem sabe um dia terminar, com o preconceito e a desvalorização da mulher. Mesmo com todos os avanços, elas ainda sofrem, em muitos locais, com salários baixos, violência masculina, jornada excessiva de trabalho e desvantagens na carreira profissional. Muito foi conquistado, mas muito ainda há para ser modificado nesta história.


Conquistas das Mulheres Brasileiras

Podemos dizer que o dia 24 de fevereiro de 1932 foi um marco na história da mulher brasileira. Nesta data foi instituído o voto feminino. As mulheres conquistavam, depois de muitos anos de reivindicações e discussões, o direito de votar e serem eleitas para cargos no executivo e legislativo.

Marcos das Conquistas das Mulheres na História
• 1788 - o político e filósofo francês Condorcet reivindica direitos de participação política, emprego e educação para as mulheres.
• 1840 - Lucrécia Mott luta pela igualdade de direitos para mulheres e negros dos Estados Unidos.
• 1859 - surge na Rússia, na cidade de São Petersburgo, um movimento de luta pelos direitos das mulheres.
• 1862 - durante as eleições municipais, as mulheres podem votar pela primeira vez na Suécia.
• 1865 - na Alemanha, Louise Otto, cria a Associação Geral das Mulheres Alemãs.
• 1866 - No Reino Unido, o economista John S. Mill escreve exigindo o direito de voto para as mulheres inglesas
• 1869 - é criada nos Estados Unidos a Associação Nacional para o Sufrágio das Mulheres
• 1870 - Na França, as mulheres passam a ter acesso aos cursos de Medicina.
• 1874 - criada no Japão a primeira escola normal para moças
• 1878 - criada na Rússia uma Universidade Feminina
• 1901 - o deputado francês René Viviani defende o direito de voto das mulheres

Texto de Rita Lee

Eis que chega minha primeira menstruação e com ela leva embora minha infância querida, salve, salve. "Rita, minha filha, agora você já é uma mocinha, precisa mudar seu comportamento. Não pode mais, por exemplo, se sentar com as pernas abertas, nem ficar andando de carrinho rolimã com os moleques da rua. Há certas regras nesta vida que devemos respeitar. Você tem de entender que o nosso mundo feminino é muito diferente do masculino, Deus assim quer".


Não demorei para entender que a partir de então seria deselegante me sentar de pernas abertas, assim como totalmente fora de cabimento continuar andando de carrinho rolimã. Mesmo porque lá em casa todos já achavam meio esquisito eu nunca ter brincado com bonecas e preferir "coisas de meninos". Confesso que sempre odiei bonecas mesmo, aquilo de ficar tirando e pondo vestidinhos, arrumando e desarrumando cabelinhos era no mínimo bocejante. Pelo menos com a molecada eu aprendia ótimos palavrões.

Tudo bem, não custa fazer um esforço, afinal, agora eu sou uma mocinha.

Mas por que cargas d'água o mundo feminino seria assim tão diferente do masculino?

Então lá fui eu buscar respostas através do método da eliminação. Bastava eu saber que algo não era "próprio para uma mulher" para me dar uma coceirinha e ir literalmente tirar a prova dos nove, ou seja, nove entre dez Luluzinhas sequer tentavam saber o motivo de não poder invadir o Clube do Bolinha.

Meu colégio não permitia que meninas jogassem futebol, e a explicação era a de que se podia levar uma bolada no seio (era educado dizer seio). Eu perguntava pro Bolinha: e como sabe que dói se você não tem teta? E onde será que dói mais, na teta ou no saco? Você usa proteção especial para o saco, então eu posso usar uma para as tetas.

Se bem me lembro ainda demorou uns 30 anos até começar a existir futebol feminino pra valer. Quanta perda de tempo.

Alguém aqui pode me dizer por que não posso ir ao meu baile de formatura usando um vestido preto? "Porque vestido preto é para usar em enterro, Rita". Então propus um negócio: ao invés de gastar dinheiro com baile eu pedi uma bateria de presente. Minha mãe deu graças pela troca. Depois se arrependeu com o barulho e me convenceu a trocar a bateria por um violão. Mãe, eu quero aprender a lutar karatê, ontem vi um filme genial do Bruce Lee e tenho certeza de que levo jeito pra coisa. "Mas karatê não é coisa de menina, Rita". Cheguei até a faixa amarela apenas, e minha mãe agradeceu meu dedão do pé ter quebrado. Pulando vários capítulos sobre o mesmo tema, chegou finalmente meu confronto com esse tal de rock and roll. Havia um Bolinha roqueiro que proclamava o lema incontestável "orra meu, pra fazer rock tem que ter culhão!".

Que bálsamo foi aquilo para os meus ouvidos. Ah, quer dizer que não se pode fazer rock com útero e ovários? Então me aguarde. Elementar, minha cara mãe: a senhora certamente nunca deve ter sentado de pernas abertas e muito menos andado num carrinho rolimã, não é mesmo? Então continue lindinha aí na sua casinha, brincando de bonequinha, que sua ovelhinha negra vai atrás de uma boa encrenquinha. Ah, antes que me esqueça, mamãe, eu descobri que lugar de mulher é onde ela quiser!

sexta-feira, 5 de março de 2010

BICHÁRIO poemas - Otoniel S. Pereira


GALO



Se o galo não cantasse

não amanheceria.

Pois é o galo que inventa,

com seu canto, o dia.


Se o galo não batesse

as asas de madrugada,

não espantaria a noite

que cobre as cores da manhã.


Amanhecer é uma orquestra

de galos jograis.

O sol nasce por música

no fundo dos quintais.


É preciso muitos galos

para que o dia aconteça.

Somente os galos conhecem

a partitura secreta.


Por trás da crista vermelha

surge a primeira centelha.

Nos ponteiros das esporas

começam a andar as horas.

A REVOLTA DO GURI



Ficamos sabendo, pela imprensa futebolística da capital gaúcha, que o jogador Walter (20 anos), do Internacional, se rebelou contra o técnico do clube, Fossati. O atacante reclamou das críticas do técnico e faltou aos treinos, desde quinta-feira (25/02) até a outra semana (04/03/2010).


Diz a reportagem de Zero Hora: “Walter se rebela com Fossati”. “Atacante reclama de críticas do técnico e falta aos dois treinos realizados ontem (...). Após brilhar na vitória sobre o Emelec, Walter, 20 anos, foi traído pela própria cabeça. Ontem, faltou aos dois treinos. No fim da tarde, a direção foi informada de que o atacante passou o dia fechado em seu apartamento (...). Walter não permitiu que a assistente social do clube e o seu empresário entrassem. O atacante limitou-se a conversar com eles por telefone. Alegou que estava ‘pensando na vida’”. De acordo com a reportagem, “o técnico o cobra em demasia nos treinos”. “Esperava receber elogios, mas ouviu o chefe dizer que precisava se dedicar mais. – Walter pensa como criança (...) Frustrou-se ao saber o que disse o técnico na entrevista e ‘surtou’”.


O contexto a que nos referimos acima é o do futebol profissional, competitivo, onde muito dinheiro está em jogo. As oportunidades para um jovem no futebol profissional são escassas, dada a competitividade. São milhares de jovens em busca de um lugar ao sol, sendo que poucos terão a oportunidade de fazer um contrato com salário elevado.


Se formos conhecer um pouco a biografia de grandes jogadores, como Pelé e Garrincha, encontramos os motivos para explicar por que Pelé tem se dado tão bem na vida (privada e pública), enquanto o Garrincha não... Todo mundo sabe o que aconteceu com Garrincha...

Muitos fatores contribuem para que a biografia de cada um de nós se modele de um jeito ou de outro, desde a primeira infância. Tenhamos escolhido essa ou aquela profissão.


Tenho a impressão de que, em algum momento da trajetória de muitos sujeitos, alguma peça da engrenagem (que desejamos que funcione perfeitamente) não cumpriu seu papel. Assim, dadas as falhas na educação, ficamos reféns do medo da “crônica de uma tragédia anunciada”. Claro, não se pode isolar e culpar, cada um em separado, família, escola e outras instituições, por esse déficit educacional, que deixa tais lacunas na engrenagem psíquica dos sujeitos.


Para ser mais claro: muitos sujeitos não chegam à maturidade desejada. Já na fase adulta, deixam-se levar por atitudes infantis que os prejudicarão em muito, no presente e no futuro.


Cada instituição tem sua parcela de responsabilidade diante do quadro que se desenha. Parece-me, e é o que constato como professor de Ensino Médio, que há um contingente cada vez maior de adultos meio infantilizados (me perdoem os psicólogos, eles teriam muito mais coisas a falar a esse respeito). Diante da competição desenfreada que vivemos hoje em dia, esse contingente de marmanjos corre o risco de se dar (cada vez mais) mal, no mercado de trabalho.

Confesso que fiquei morrendo de inveja do Walter. Quem de nós, alunos, professores, trabalhadores em geral pode contar com motivador, psicólogo, empresário, assistente social, nutricionista? Já pensou ter todo esse aparato do nosso lado, quando estivermos em dificuldades?


Se deixarmos de ir ao trabalho por uma semana porque, em vez de elogios, fomos criticados pelo patrão (e/ou outros), o que vai acontecer conosco? Quem vai passar a mão em nossa cabeça?

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...