segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

CACASO - do livro LERO-LERO (1967-1985)



RITO


Cadê o queijo que estava aqui?

O gato comeu.

Gato filho da puta.


LÓGICA MENOR (DE IDADE)


Nem todo guerreiro guerreia

nem todo Pacífico é de paz

nem todo Constante é constante


mas a Gracinha é gracinha


MINORIDADE


Sou criança mas não sou

bobo


CONSOLO NA PRAIA


A beleza passa mas a inteligência

permanece


CARTEIRA PROFISSIONAL


Não sou amado no amor: sou

amador


O LUGAR DA TRANSGRESSÃO


Encontrei um sapo cochilando dentro de

minha botina. Nunca me meti em botina

de sapo. Que liberdades são essas?


ROTINA


Uma comissão de urubus inspeciona

o pasto desde ontem. Foi cascavel novamente.


SÃO FRANCISCO


O velhinho saiu da janela pra não ser

fotografado.

Coisa de criança.


MODA DE VIOLA


Os olhos daquela ingrata às vezes

me castigam às vezes me consolam.

Mas sua boca nunca me beija.


LÁ EM CASA É ASSIM


Meu amor diz que me ama

mas jamais me dá um beijo


pra continuar rejeitado assim

prefiro viajar para a Europa.


SERESTA AO LUAR


Desde que declarei meu amor nunca

mais me olhou de frente.

domingo, 6 de dezembro de 2009

DO LIVRO "CLASSIFICADOS POÉTICOS" - Roseana Murray



Menina apaixonada oferece

um coração cheio de vento

onde quem quiser pode soprar

três sementes de sonho.

O coração da menina

ilumina as noites escuras

como se fosse um farol.

É um coração como todos os outros:

às vezes diz sim

às vezes diz não

às vezes diz sim

às vezes diz não

e tem sempre uma enorme

fome de sol.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SEM ASSUNTO



Não sei se foi furacão tornado que passou por Ijuí.

Só sei que me entornei, qual árvore torturada no liquidificador.

E foi assim que esse (tão) pouco pude escrever.


Seus olhos

consoantes

a vogais

sublinhavam

tônicas

trêmulas


a boca DJ

cuspia

canções

tetraplégicas


nem tosse

nem rinite

alérgica

era overdose

da adrenalina

biotônica.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

LUA ATRÁS DO TELHADO



Estava na ante-sala

e seus passos

pediam socorro

às lajotas.



Usava short

peircing no nariz

e tinha olhar assustado

pra estremecer

gengivas e lábios.



Recordo o episódio

emocionado ao avistar a lua cheia

sair detrás do telhado de um prédio.



Não quero pensar

sou todo sentir

- sem rancor nem ódio -

e enxergar a moça e a lua

turbinando de vida

o tédio.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

CADÊ A SAÍDA?



Contou-me uma amiga que, desde pequena, ao se enredar numa frustração, ou diante de algum problema sem imediata solução, levava as mãos aos cabelos – alisava, ajeitava, enfeitava. E o faz até hoje. Além dos cuidados com os seus cabelos, devora barras de chocolate e assiste punhados de desenhos animados.

Barão de Munchausen é um personagem de aventuras em que o herói realiza façanhas pra lá de impossíveis do ponto de vista da normalidade e da compreensão lógico-racional. Numa das aventuras o barão, montado em seu cavalo, depara-se afundando num pântano de areia movediça. Está perdido, pois não pára de afundar. Nisso o barão é iluminado pela seguinte idéia: puxar-se pelos próprios cabelos e, assim, sair do buraco em que afundavam, ele e o cavalo.

Em filosofia esse recurso é visto como um problema lógico insolúvel, uma situação em que não há saída. Por exemplo, ao apresentarmos a defesa de uma idéia e, para isso, recorremos a uma premissa absurda – porque não tem sustentação lógico-racional.

Todo o dia, desde crianças, engolimos frustrações, porque vivemos o jogo de estímulos e apelos constantes para desejarmos ter alguma coisa, (e a sua relação com um ideal de felicidade – identificar-se com os objetos de consumo), e a negação disso tudo, tendo em vista nossa condição social e existencial. Nesse jogo entre oferecer e negar, vamos empilhando frustrações.

Diante dos nãos que a vida e a sociedade nos dão, é preciso buscar saídas. E a maioria, em vez de buscar uma luz em si mesma, volta-se para o exterior. Uma religião, grupo de boêmios, drogados ou, até, nos medicamentos (faixas pretas).

Com certeza, a literatura serve como grande auxílio para fortalecer nosso eu. Os grandes textos, romances, poemas etc., com seus personagens (heróis, vilões), bem como os valores que estão em jogo, vão fortalecer os alicerces de nosso eu interior. Assim estaremos melhor preparados para enfrentar tsunamis e tempestades.

Podemos alisar os cabelos, ficarmos horas diante do espelho, ou sonhar com saídas absurdas para nossos problemas. Mas eles, os problemas, vão e voltam. Por isso necessitamos fortalecer nossas defesas. Que tal um bom livro na cabeceira da cama, em vez de caixas de remédio em cima da cômoda?

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...