quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Paulo Leminski - do livro Caprichos e relaxos



Amor, então,

também, acaba?

Não, que eu saiba.

O que eu sei

é que se transforma

numa matéria-prima

que a vida se encarrega

de transformar em raiva.

Ou em rima.

domingo, 1 de novembro de 2009

PAPUDOS



Onde moro
os grilos falam mais alto.

Não sei se festejam
não sei se reclamam
não sei se me enchem de vida
não sei se me enchem o saco.

São grileiros papudos
que fizeram um pacto
com Deus ou com o diabo.

Mas que incomodam, incomodam!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

MÁSCARA


Olhar misterioso que veio
disfarçar o seu medo

para gravar
numa caligrafia
insinuosa

a embriaguês
das pernas

quadris e ombros

estremeço
como um réu
diante do seu olhar

apenas a minha máscara cai.

Agora sou super-herói
aniquilado pelos vilões
que farão parte
da próxima aventura.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

METADES



Metade de mim quer conquistar

o outro lado do muro

a outra metade quer ficar

e modificar o passado.


Uma aposta na experiência

a outra aposta no futuro.


Olho o horóscopo

e meu signo diz

que o período é excelente

para conversas fáceis

e encontros amorosos.


Tenho coleções de senhas

tenho coleções de chaves

e, no ritmo do possível,

jogo todos os jogos.


Sei de cor

onde vão dar

esses labirintos.


Agora é final da madrugada

e o despertador afugenta

os sonhos das duas metades

e silencia as outras metades

que invento.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

DO LIVRO "TUDOS" - Arnaldo Antunes



Estou cego a todas as músicas,
não ouvi mais o cantar da musa.

A dúvida cobriu a minha vida
como o peito que me cobre a blusa.
Já a mim nenhuma cena soa
nem o céu se me desabotoa.
A dúvida cobriu a minha vida
como a língua cobre de saliva
cada dente que sai da gengiva.
A dúvida cobriu a minha vida

como o sangue cobre a carne crua,
como a pele cobre a carne viva,
como a roupa cobre a pele nua.
Estou cego a todas as músicas.
E se eu canto é como um som que sua.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...