sexta-feira, 23 de outubro de 2009

LIBERDADE - Fernando Pessoa



Ai que prazer
não cumprir um dever,
ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira
sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
de tão naturalmente matinal,
como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
a distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
esperar por D. Sebastião,
quer ver ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
flores, música, o luar, e o sol, que peca
só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
é Jesus Cristo,
que não sabia nada de finanças
nem consta que tivesse biblioteca...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

ALEGRIAS E TRISTEZAS


De vez em quando eu tenho uma tristeza.

Acho que é porque eu fico só.

Meus amigos fogem da minha agenda

e dizem que estão exaustos

numa rotina de dar dó!


Eu tenho a companhia de uma folha em branco.

É daquelas que aguardam, pacientemente,

A visita de dona inspiração.


É meu diário.

Não, não é festa, som alto,

brindes, piadas e outros encontros.

É pôr do sol, céu estrelado

e muito silêncio.


Nessa hora,

triste por ser refém

da deusa da beleza,

encontro algumas palavras

e também, com alguma sorte,

alguns versos e um pouco de amor!


terça-feira, 20 de outubro de 2009

COLUNA POLICIAL


O jornal está aberto

na coluna policial.


Alguém bateu

alguém brigou

alguém morreu


deram tiro

arrombaram

assaltaram


Leio o jornal

de trás pra frente

é piada

é horóscopo

é futebol


pan, pan, pan, pan!...


Uma criança

pede algo

pra comer.


A geladeira

não fez feira

só tem maçã.


- Só isso?!


Fico triste

com a miséria

desse mundo


um alarme

estressado

do meu bairro

quer socorro


ergo muros

boto grades

piso fundo...


Tenho medo de morrer

tenho medo de morrer

tenho medo de morrer!

domingo, 18 de outubro de 2009

ATÉ O FIM



Vou até o fim

fim lândia


vou até o final

final mente


até o fim

fim lândia


não vou sentar

pra ver o fim

fim lândia


nem chorar

antes do fim

fim lândia


vou lutar até o fim

fiel mente


jogar até acabar

o tempo


até o final do final

final mente...


Sei que eu vou até o fim

fim lândia


finalmente até o fim

Finlândia!


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

LIVRO DAS PERGUNTAS - Pablo Neruda


Onde a lua cheia deixou
o seu saco noturno de farinha?



Se já estou morto e não sei,
a quem devo perguntar as horas?

Me diga, a rosa está nua

ou tem apenas esse vestido?

Há alguma coisa mais triste no mundo

que um trem imóvel na chuva?


A fumaça fala com as nuvens?


Por que se suicidam as folhas

quando se sentem amarelas?

Quantas abelhas tem o dia?


E é paz a paz da pomba?

O leopardo faz a guerra?


Quantas perguntas tem um gato?


Onde estão aqueles nomes
doces
como as tortas de antigamente?


Para onde foram as Donanas,

as Felisbertas, as Bizuzas?

Para quem sorri o arroz

com infinitos dentes brancos?


Como a laranjeira e as laranjas

dividem o sol entre si?

Quem gritou de alegria

quando nasceu a cor azul?

Como ganhou sua liberdade

a bicicleta abandonada?

É verdade que no formigueiro

os sonhos são obrigatórios?

Já percebeste que o Outono

é como uma vaca amarela?

Quem canta no fundo da água

na lagoa abandonada?

De que ri a melancia

quando a estão assassinando?

Posso perguntar ao meu livro

se é verdade que o escrevi?

Então não era verdade

que Deus vivia na lua?

Quando o preso pensa na luz,

é a mesma que te ilumina?

Por que vivem em farrapos

todos os bichos-da-seda?

Onde encontrar uma sineta

que soe dentro de teus sonhos?


A quem posso perguntar

que vim fazer neste mundo?

Há coisa mais boba na vida

que chamar-se Pablo Neruda?

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...