domingo, 4 de outubro de 2009

A IMAGINAÇÃO DA SARACURA




Ao espiar o montão de arquivos esquecidos no computador, me deparei com esta história que meu filho, Giovanni, ajudou a escrever, quando ele tinha uns sete anos.


Era uma vez uma saracura que adorava passear, sempre vestida de saia.


Ela tinha pernas compridas e bumbum alto, igual um avião a jato.


Toda vez que ventava, ela levantava vôo e subia para o céu, pensando que era um balão.


Um dia o balão estourou e sua imaginação, que estava dentro do balão, saiu voando alegre por aí.


Imediatamente a saracura partiu à procura de sua imaginação. Voou para o sul, voou para o leste, para o oeste e, também, para o norte.


A saracura encontrou, finalmente, o primeiro pedaço de sua imaginação.


Nesse lugar havia uma flecha que apontava para baixo. A saracura voou nessa direção e, daí a pouco, encontrou uma cidade. Então a saracura procurou procurou, em cada uma das janelas das casas.


Na ultima janela a saracura encontrou cinco pedaços do quebra cabeça, cujo nome era “imaginação.”


A saracura saiu dali feliz da vida, achando que tinha recuperado a imaginação inteira, mas ela não sabia que o pior ainda estava por acontecer: o menino que, com uma flecha, tinha furado o balão da saracura, havia chegado em casa e visto que o balão da saracura era um troço que nem ele chamava de balão.


O menino saiu rapidamente de casa e foi atirando todas as flechas de brinquedo que ele tinha nas coisas que as pessoas tinham nas mãos.


A saracura fugiu e foi se esconder na floresta.


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

AS SEM-RAZÕES DO AMOR - Carlos Drummond de Andrade


Eu te amo porque te amo.

Não precisas ser amante

e nem sempre sabes sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça

e com amor não se paga.


Amor é dado de graça

é semeado no vento,

na cachoeira, no eclipse.

Amor foge a dicionários

e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo

bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca,

não se conjuga nem se ama.

Porque amor é amor a nada,

feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte,

e da morte vencedor,

por mais que o matem (e matam)

a cada instante o amor.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

FRANKENSTEIN



Pode ser esquisito

enxerto

e broto

milagrosamente

concebido

dos becos

e esgotos


é livre

farrapo

e, por ser livre,

compreende as vozes

de todos os bichos...


Não sou Frankenstein:

sou monstro hurbano

de garras afiadas

e ouvidos alongados

por tantos sons estranhos...


Nem o fundo do mar

compreende a minha voz!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PRA DESPERTAR A MANHÃ



Numa folha dobrada, sobre a mesinha de centro da sala de espera, estava escrito:


PRA DESPERTAR A MANHÃ


Até quando vou deixar que os outros decidam por mim?

Sei que sou responsável pelo que faço, mas alguma força maior do que eu entra em jogo... Falta indignação e força de vontade de minha parte?

Não tenho certeza sobre o dia de amanhã. Mas o que serei depende, em boa medida, das decisões que tomar aqui e agora.

Deve-se aprender a conviver com o inesperado.


Mesmo num mundo de incertezas, não tem como fugir destas questões:


-saber qual o melhor momento para agir.


-decidir o que é mais importante.


- saber qual a coisa certa a ser feita.


Acabo de ler a mensagem manuscrita que encontrara, e percebo que as preocupações de quem escreveu são também as minhas preocupações.


sexta-feira, 25 de setembro de 2009

VAMOS APRENDER A ANDAR DE BICICLETA



As coisas vão de mal a pior

você se sente sozinho

cercado de lobos insensíveis.


Você olha para o céu

e nenhuma estrela aponta o caminho.


Nessa hora, precisamos captar uma energia invisível

que está em todo o lugar - mas que não se oferece assim no mais...


Organizar os pensamentos, mesmo que, no limite,

temos à mão apenas uma folha em branco do velho diário,

abandonado em algum instante do passado.

Rabiscarmos palavras, frases, pode ajudar a organizar

o mapa de nossos agitados pensamentos.


Esse é o processo.

Nisso eu acredito.

Minha religião é a do inesperado,

do imprevisível e inusitado

- e por que não mesmo do surreal?


Não vamos tremer, se de novo voltamos a ser aquela criança

que pedalou, pela primeira vez, a bicicleta, sem qualquer proteção. Tínhamos que ir em frente, senão cairíamos e nos machucaríamos.

Vencemos o medo, domamos a bicicleta, e tudo se normalizou.

Agora estamos crescidos.

Os desafios são outros.

Se vencemos o medo uma vez,

num mundo totalmente estranho,

habitado por bruxas e monstros,

podemos agora aprender a encontrar

outras maneiras de espantar o medo.


Acho que é pra isso que escrevo.


Minha bicicleta perdeu o freio,

e eu tenho medo de parar e levar um tombo.


O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...