sexta-feira, 10 de julho de 2009

MEDOS







Na hora exata
descobrimos
que não verte sangue
cortar as unhas.

Mais que depressa
outros medos
dizem sim.

Um deles
é a teimosia
de que um dia
vamos adivinhar
- e antecipar -
nosso fim.



quinta-feira, 9 de julho de 2009

RECOMPENSA



Ansiamos
pela notícia
bombástica
que vai nos alegrar.

Sustos fogem
num tropel de asas

investimentos
tantos
em sonhos

que um dia vão escalar
outros caminhos.

O menino encontrou
uma moedinha
de dez centavos

estava tão alegre
que nem ligou
se era noite
ou se era dia

abriu um sorriso imenso
pois ganhou na loteria!

terça-feira, 7 de julho de 2009

FUGA



O menino aceitou

dividir a mesa,

e como prova de amizade

ofereceu uma bolinha de gude.


Nesse dia jogava na defesa.


Logo a bolinha rolou

escada abaixo

e desapareceu

na sargeta.

domingo, 5 de julho de 2009

VÊ É UMA CAIXA - Valéria Belém

Alguns séculos antes de Cristo os filósofos afirmavam que era fundamental, dentre outras coisas, a busca pelo conhecimento de si próprio. Tanto naquela época, quanto hoje, pergunta-se, também, sobre a sociedade e o universo, a origem e fim, o todo e o nada. Mas isso pouco vale, se não se consegue saber quem somos – Michael Jackson aí está para mostrar o quanto o homem é complexo, e pode se perder nos labirintos de sua alma.


O que fazer para nos conhecermos melhor? Nos últimos séculos as ciências desbravaram imensos territórios, na busca pelo conhecimento. Um dos territórios investigado foi o da subjetividade, cabendo às psicologias e à psicanálise essa tarefa.




Costuma-se dizer que os outros auxiliam na compreensão de nós mesmos. Seus comentários podem iluminar nossos auto-julgamentos. Bem, desde que tenhamos coragem de nos voltarmos para nós mesmos!



No livro de Valéria Belém, Vê é uma caixa, algumas crianças resolvem fazer uma brincadeira: comparar seus colegas e amigos com objetos. “Vê é uma caixa, Mauro é puro livro, pois está sempre cheio de histórias, e Diná é como um chiclete”. Como reagiu cada um, ao ser comparado com TAL objeto? Vê, passado o susto, decidiu assumir “seu jeitinho caixa de ser”. Foi além: começou a fazer caixas, para dá-las de presente.




Essa atitude desencadeou uma série de eventos afetivos nas pessoas que eram de seu convívio. “Todos a-ma-vam” os presentes que recebiam, inclusive uma mulher mal-humorada, que morava na rua da escola e que tinha um jardim. “Tanto azedume não combinava com flores perfumadas!” (p. 18). Bastou ela receber de presente uma caixa, do formato e do tamanho de uma chave, que seu coração se abriu.




Essa história nos permite questionar a respeito de quantos sentimentos e emoções trancamos na nossa caixa interior, o nosso coração, e que deixamos de dividir, perdendo a oportunidade de fazer novas amigos, seja no trabalho, nas escola ou até nossos vizinhos.




Os livros também são caixas que, ao serem lidos, nos presenteiam com aventuras, dramas, suspense, comédias, tragédias... São “caixinhas de surpresa” que vão abrir, não apenas nosso coração, mas também a nossa mente. “Caixinhas de surpresa” podem ser também as pessoas, pois suas atitudes deixarão de lado a indiferença, alterando a ordem dos acontecimentos, como fez VÊ, na história de Valéria Belém.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

RICARDO AZEVEDO - Ninguém sabe o que é um poema.



Com mais de cem livros infantis publicados, Ricardo Azevedo, nascido em São Paulo, considera-se um “bagunceiro da linguagem”. Segundo ele, poetas são sujeitinhos inconvenientes, que gostam de fazer bagunça e mudar tudo de lugar. Bagunçam a verdade, mexem com a inocência das palavras, seu som, seu peso, sua cor e seu ritmo que, muitas vezes, se insinua entre duas sílabas. Dessa forma, contrariam hábitos e convenções, “acordando” a linguagem de uma espécie de sono, enriquecendo-a com novos sentidos.




Esse “bagunceiro” não pretende explicar, mas sim partilhar suas inquietações: sobre violência, amadurecimento pessoal, o mistério que são os outros e a própria poesia.

POEMA DO TEMPO

Tem o importante que sabe que é comum
Tem o comum que se acha importante
Tem o diamante que sabe que é pedra
Tem a pedra que se acha diamante
Enquanto isso, o tempo passa levando


comuns, importantes, pedras e diamantes






Ao lermos em voz alta o poema Eu passei um dia inteiro, percebemos que o texto possui um ritmo, uma cadência que organiza as frases: isso é muito comum em poesia. De acordo com Ricardo Azevedo, esse gênero esteve ligado à música em diferentes circunstâncias históricas.

Eu passei um dia inteiro
pra fazer essa modinha,
você chega e vem dizer
que a modinha não é minha?

A modinha é minha, sim,
quem não sabe, vai saber,
não tem como duvidar,
vou provar por a mais b.

Veja só o jeito dela:
confusa, desajeitada,
coitada, destrambelhada,
capenga, desengonçada.

Basta olhar pra cara dela:
disforme, deselegante,
quadrada, mal-ajambrada,
mixórdia marca barbante.

Rima pobre, manquitola,
arremedo incompetente,
tentativa que não cola,
só amola, infelizmente.

Sem assunto, sem idéia,
banal, batida, bisonha,
lengalenga, logorréia,
sem sentido, nem vergonha.

Tal bobice é um bagulho
é tolice atrapalhada,
é só burrada e barulho,
de poesia não tem nada.

Vou parando por aqui,
já chega de picuinha.
Quero ver quem vai dizer
que a modinha não é minha!

Ao ser perguntado sobre “o que é a poesia”, Ricardo Azevedo diz que o ser humano é um ser que pergunta, e a poesia tem a ver com isso. “Para responder a suas constantes indagações, o homem inventou as religiões, as ciências, as filosofias e também as artes. Vejo a poesia e a própria literatura, ou seja, as artes feitas com palavras, como formas de perguntar, interpretar, discutir e de compartilhar, por meio da ficção, assuntos que emocionam, encantam ou perturbam a todos nós”.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...