sábado, 28 de fevereiro de 2009

CARNAVAL




Esfrego os olhos
bocejo
abro a geladeira
refresco a cara
até descobrir
que não sei
o que fazer...

E nesse instante
os camarotes
se iluminam
pelos flaches
dos olhares
curiosos
da arquibancada
lotada...

Iogurtes
maionese
katchups
e mostardas
ovos, maçãs e tomates
limão cortado e chocolate
e muitos outros brothers
que todos querem
agarrar e imitar...

Garrafas
gigantes
de guaraná
são carros
alegóricos
que dividem o palco
com legumes e maçãs...

Todos esbanjam saúde
com seu gingado
até dar olé!

A geladeira
é um sambódromo
colorido
que me leva
de arrasto
com muita
gula
no pé!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

MAMÃE




Mamãe alistou-se pra guerra
vai saciar a fome das trincheiras

na linha de frente vai o estômago
orações e ladainhas vão atrás.

Nem bem chega o sol
e a casa está arrumada

no rastro
do esquecimento

o vidro de café
sem tampa

o pão na travessa
ao relento.

Quando ultrapassa o quintal
o olhar de mamãe se liberta

o ladrão invadiu
o pátio do visinho

a tia excêntrica
prepara seu funeral

a prima esquisita
não pára de fungar...

Mamãe faz academia
quer estar preparada
pra quando o mundo acabar!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

INVENTÁRIO




Papai me espreita
pela fresta da lápide.

É a foto de um jovem
no obituário do jornal.

Sobre o guarda-roupa
malas antigas
guardam fotos
amareladas.

Papai vela
minhas lembranças...

Em silêncio
junto forças
para não claudicar.

O ronco do fusquinha
mais parece frigideira
e faz do alto dos barrancos
agitar-se a capoeira

(há fotos e documentos
no porta-luvas)

como sempre,
retorna ao lar!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

CONJECTURAS


Desenho - Fernando Pessoa

Em frente de casa, desde a manhã, um senhor de meia idade, que não mora na casa, lança olhares morteiros em seus desafios.

O olho decola por cima da rua e do movimento dos carros. Olha desenvolto, para todos os lados, não acusa timidez.

Roupas simples, à primeira vista parece da roça. Usa bigode, fiel a modas passadas. Está rude e inquieto, como aqueles seres que chegaram há pouco num lugar estranho.
Noutro ambiente, nervos excitados. Está na casa dos outros.

À tarde, domesticou-se. Após o almoço lava a louça, espia o armário com familiaridade, coloca o detergente na esponja, abre a torneira e dirige a palavra aos da casa, critica o governo com seus impostos sem fazer rodeios. Declina décadas de experiências para decifrar a estação que ora vivemos.

Já é da família. Alisa o pêlo do gato, acaricia o cachorro, encara os vizinhos como reles mortais. Decerto a digestão foi fácil, após o almoço, sem chás e sais de frutas.

Desajeitado na área, em frente à casa, com a mão no queixo, sem saber que o observo do outro lado da rua, causa-me desconforto. Nem vejo que há um cão, sentado, no pátio. De nada serve perguntar-me de onde vem, o que faz, por que está ali, se pirou ou não.

Meu filho volta do colégio. Está feliz com a escola. Como faz duas vezes por dia, mostra-me seu álbum de figurinhas. Deseja compartilhar seu prazer de colecionar. Quando abre o álbum, seus olhos, alegres e curiosos, irradiam cores e formas.
O álbum é parte de um ritual, como o regresso de Ulisses a Ítaca, sem teorias, paradigmas, conjunturas. Apenas seu pai se enreda em hipóteses.

Seu corpo sorri. Minha consciência se inquieta. Se aliena?

algo estranho acontece. Nada sei, senão conjecturas, a respeito do meu visinho.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

CONFLITOS




ÊTA VIDA
APRESSADA!

A cigarra
apressada
quer antecipar
a primavera
e chia igual
torneira
aberta
e vazia
sem água.

Parece
chaleira
roxa
de raiva
abandonada
que foi
no fogão...

A primavera
medrosa
treme o frio
da manhã.

Quer ser
formiga
esforçada
em trilhas
sinuosas
e fica
vermelha
de raiva
com a cigarra
que chia
de tão
preguiçosa
que é...


Ela nem sabe
que logo vai andar
estressada
com o atraso do verão
e aí todos vão vê-la
explosiva igual
torneira fechada
pingando!

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...