sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

BETONEIRA




Betoneira
que não cansa
e não fala
e não coça
pulga atrás
da orelha.

Não lamenta
a vida.

Betoneira
insaciável
e faminta.

Engole pedra
bebe água
massa faz.

O servente
se esfacela
e oferta
músculos
à rotina.

A construção
na avenida
faz gracejos
atrevidos
aos que passam.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

PROGRAMA DE INCENTIVO À LEITURA E ESCRITA




Aproveitamos este espaço para veicular possíveis atividades que serão desenvolvidas durante o ano de 2009 em Ijuí/RS.

PROJETO DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS – In: Programa de Incentivo da Leitura e da Escrita – SMED de Ijuí - Prof. Américo Piovesan

JUSTIFICATIVA


Ao abrirmos um livro, abrimos as portas do imaginário, e podemos nos maravilhar, nos surpreender. São tantas cidades, reinos, fadas, joões e marias. São tantos risos, tantas lágrimas, mares e florestas, gigantes e duendes. Cada situação da história parece saltar da página do livro para a vida real, ou vice-versa. A leitura nos coloca em contato com outros mundos em questão de poucas páginas.

Nossa educação formal reconhece que seus alunos(as), as crianças, possuem uma subjetividade diferenciada se comparada à dos adultos. Neste sentido, os contos de fadas, por exemplo, pertencem à criação de um mundo próprio da criança (o da imaginação e da fantasia) e a ajudam a simbolizar e resolver seus conflitos psíquicos inconscientes, tornando seu espaço psíquico tão real quanto o é a realidade da vida. Segundo os psicanalistas Diana Corso e Mário Corso, no livro Fadas no divã, as crianças ainda não delimitaram as fronteiras entre o existente e o imaginoso, entre o verdadeiro e o verossímil. Dessa maneira, elas necessitam ter seu próprio universo de mistérios. Elas desejam o medo, o prazer do mistério e o desafio da aventura, e essas fantasias não são um desvio do mundo adulto.

Na sociedade atual, há o predomínio das imagens (técnicas). Para não sermos reféns desse mundo, e também para contrapô-lo, a literatura, com suas histórias, traz um mundo rico, pleno de significados e sugestões. Diz Celso Sisto: “contar histórias significa salvar o mundo imaginário. Vivemos, em nosso tempo, o império das imagens, quase sempre gerais, reprodutoras e sem individualidade. Essa reprodução, desenfreada, operada por uma série de meios de comunicação, em muitos casos, impede o livre exercício da imaginação criadora. O espaço que sobra para o destinatário influir no produto é quase nenhum.

Quando se conta uma história, começa-se a abrir o espaço para o pensamento mágico. A palavra, com seu poder de evocar imagens, vai instaurando uma ordem mágico-poética, que resulta do gesto sonoro e do gesto corporal, embalados por uma emissão emocional, capaz de levar o ouvinte a uma suspensão temporal. Não é mais o tempo cronológico que interessa e, sim, o tempo afetivo. É ele o elo de comunicação” (In: Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias, p.28).


Contar histórias é dialogar, para quebrar o silêncio e o isolamento do educando, perpassados pelo prazer de escutar e de participar. As histórias possibilitam a libertação dos padrões vigentes, ampliando o espaço das diferenças. Instauram o sonho e promovem o imaginário individual.

As histórias que lemos/contamos despertam sentimentos, trazem informações e, também, possibilitam discutir determinada idéia ou tema. Além disso, promovem a integração social e cultural.

Ao discutir se uma situação é justa ou não, se é possível ou meramente fantasiosa, a criança pode se deparar com questões, do tipo: “O que é a justiça?”, “o que torna algo possível?”, etc. Assim, as histórias que serão contadas aos alunos, a partir das temáticas por elas abordadas, possibilitam a abertura para um questionamento, uma reflexão ou um debate, ainda que sejam, num primeiro momento, “internos”.

OBJETIVOS

- Contribuir para que os alunos(as) adquiram o hábito da leitura.

- Intensificar, de maneira sistemática, o encontro da criança com os livros e a leitura.

- Fomentar a passagem da leitura ingênua para a leitura crítica.

- Debater a história, a partir de sua temática, estabelecendo sua relação com a realidade do estudante/educando(a) , suas vivências, sua história pessoal.

- Estabelecer relações do que se contou com outros textos que abordam a mesma temática, ou temáticas afins.

- Aproximar a leitura da escrita, possibilitando que os educandos(as) exercitem sua criatividade e socializem sua experiência de autores(as).

- Visar, a partir das temáticas das histórias, a que as crianças tomem consciência de valores, tais como certo/errado, justo/injusto etc., já que a contação de histórias não se resume à mera diversão/entretenimento, mas sim procura nos tornar melhores, solidários e tolerantes no convívio com os outros.

PROPOSTA DE TRABALHO (a ser debatida com direção, coordenação e professores).
- Definir temáticas de acordo com a faixa etária/série.

- ... como será o debate/diálogo após a contação da história.
- ... como será a produção (escrita) dos alunos.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

PECADOR


Arte - Paul Klee


Empilho pecados
a vida inteira,
mas não esqueço
de alimentar
canários
de esperanças
na gaiola.

Pecados deslizam
por entre os dedos
como faróis do carro
que perseguem
a noite sóbria.

A cada dia que passa
embaralho meus pecados
nas gavetas da memória...

Perdi o brilho,
a luneta e me enredo
em novelos de histórias,
deixo-me acalentar por delírios,
deslizes de vitórias...

Prometo, prometo
a meu anjo da guarda
localizar os pecados
no porão.

Amanhã, amanhã
expurgarei meus pecados
farei a derradeira revolução!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

IMIGRANTE E PASSAGEIRO - canto a Ijuí






A janela do ônibus
é o espelho, olho e o braço
para as ruas, casas e passeios
estenderem a mão.

A janela mostra
tantas coisas
para quem deseja ver!

Em Ijuí há ruazinhas
de muitos desconhecidas
e casas antigas
que foram abandonadas
pelos fantasmas...
Eles dizem que há mistérios
que assoviam no amanhecer!



Como é possível
ser passageiro
que tudo olha
e nada vê?

Vizinhos se ignoram
e constroem
torres de babel.
Nas horas de folga
não relaxam e derramam
seu olhar cítrico
a quem ousa comer
a fruta no pé!



Como é possível
ser passageiro
que se perde
no labirinto
do presente?

Da janela do ônibus,
no início da manhã,
meu Irmão vem cochichar:
- Quem, em Ijuí,
acorda mais cedo?
Para alguns é o leiteiro
para outros o jornaleiro...
Mas ele sabe que não é nenhum dos dois...

São os galos e os passarinhos!

Que não confiam na mecânica
dos relógios de parede
e prestam, com sua garganta,
sonoros serviços
à comunidade!

Seus primeiros cantos assustam.
Mas, aos poucos,
seguimos o caminho.

Nessas viagens,
a trabalho e a passeio,
freamos as batidas
do coração!



A cidade nos pertence
e invade os sentidos
sem marcar hora e lugar!
A cidade salpica nossa vida
como chuva torrencial!

Os solavancos das ruas
são as pedras no caminho
que desviam nossos olhos
de tantos outros espinhos.

Na parada ou no ônibus
há todo tipo de gente,
cores, idades, gestos diferentes...

Burburinhos da catraca...
Quem sabe o que a vida
tira ou empresta?
Deficientes e gestantes,
velhos e crianças,
e suas manobras na roleta!

Ao lado da janela do ônibus,
o guri, desconfiado,
ousa perguntar:
- O que faço, nesta hora, neste lugar?
E no mesmo instante, responde:
- O que importa é que vejo!

O tio cochila na sacada
alheio aos burburinhos
a mãe retorna ao lar
com a criança dormindo!

Trocas, despedidas nas esquinas
beijos, abraços, acenos.
Cada qual se liberta ou se ajusta
à rotina conquistada...


A criança da vila distante
concentrada em seu brinquedo
lambuza-se na terra, alheia aos perigos...

Às vezes nos distraímos e esquecemos
que mais cidades existem
e têm seus riscos!

Há os itinerários do ônibus
Centro – Glória – Boa vista
e nossa sina de estrangeiros.




Nada pode mudar
nossa geografia
nada vai apagar nosso rastro...
Obras, exemplos, sorrisos,
abraços, gestos, acenos...

A maquiagem da cidade
é construção mal acabada:
o reboco das paredes
e o piso das calçadas
parecem pedintes
que estendem o chapéu!

Minha cidade tem dinossauros
que dizem ser quebra-molas
e tem bichos do mato
que dizem ser motoristas!
E muitos correm, tropeçam,
se iludem a trapacear a vida!

Tem vândalos e boêmios
e namorados nas praças
tem pedestres distraídos
nas faixas de segurança!

E na segunda parte da vida
colhemos a alma desgastada
e o extrato de dilemas
são os atos e palavras!
Nos tornamos poetas
para prestar contas
a Deus...
Confusos esquecemos
que o sentido pra vida
nos aguarda nas esquinas.
Perdemos de vista
a saída do curral!

Tem namorados nas praças
vândalos e boêmios
tem faixas de segurança
e pedestres distraídos!...

Hoje o mapa da cidade
não reservou lugar
para a paisagem
de tempos atrás!


A cidade inchou e cercou
lavouras e potreiros...
Mas não estancou
de nossa alma
O sangue de colonos!

E assim marcamos encontros
nos armazéns e casas coloniais
e nos empanturramos de queijo,
polenta, chope e vinho...
trapaceamos as contas
de nossos ancestrais!

Alguns sítios e terrenos resistem
com seus pomares e milharais
e a cidade encurrala
cavalos, vacas e bois!


As crianças florescem
como a espiga bonecando,
na escola, nos pátios, na calçada,
sedentas do sol e da chuva de verão!

E o guri se ilumina
com a diversidade de
loiras morenas meninas
imagens gestos fantasias
toques olhares quermesses
colégios festas de São João!

Essa é a minha cidade
que sempre vem sussurrar:
o canto precisa continuar
porque delira incompleto
nos vacilos de nosso olhar!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

SE FOSSE VOCÊ





Que camisa escolheria para combinar com as bermudas, meias e chinelos?
Que cores usar, para ser notado, no centro, no horário comercial?

Não vale o apelo às massas, Big Brother, novelas, só você, vendedora favorita, com sua intuição fervorosa, poderá me ajudar.

Sei, tenho todo o tempo do mundo para me debater no espaço vago do provador, enquanto, do alto, o ventilador rosna pra mim, igual um cão policial.

Você não sabe, mas posso estar traumatizado com o novo milênio e suas imagens violentas, sexo, fome, riqueza, luxuria.

Descobri, para meu desespero, que o ventilador sopra, de cima para baixo, projéteis quentes mal-encarados.

Só você pode dizer que cores combinam com uma estação de excessos, sul com sol, sudeste com chuvas, norte destemperado...

Você sabe, o clima anda indeciso e eu me deixo contagiar.

Ponhas-te no meu lugar e verás como falta sentido ao calendário. Programamos viagens de mentirinha nos feriados, para curtir as promessas desfeitas, e os pecados morrem de vergonha diante de nossas culpas.

Se fosse você, com que cara responderia ao telefonema do cobrador?

Como seria teu aceno aos vizinhos, depois dos arrotos ensandecidos da noite que passou?

Você também programa viagens exóticas nas férias, já sabendo que vai bolar “simples e boas” desculpas para justificar por que ficou por aqui?

Ah, se fosse você...

No meu lugar, você passaria a tarde nas lojas, quebraria o tédio das vendedoras, pra despertar seu ódio com a indecisão de tuas escolhas. Deixa eu ver aquele vestido, Puxa, mas que lindo esse detalhe! Nenhuma amiga minha tem igual!

Ficaria horas no provador e diria, para desespero da pobre que te atende, Puxa, hoje sim ganhei a tarde!

No meu lugar, depois de olhar mil coisas, você descartaria boa parte das picuinhas, voltaria para casa com meia dúzia de sacolas, que vão se juntar a centenas de outras, socadas nas prateleiras.

À noite, se engajaria no mutirão de salvação do planeta, enviando mensagens que entopem caixas de e-mails, preocupada que estás com a consciência ambiental...

Se fosse você, simplesmente diria: Agora, sim, é pra valer!

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...