domingo, 30 de novembro de 2008

AMADA LEITORA


Minha querida leitora, Senhorita (ou senhora) Rose. Toda vez que tento escrever poesia, me vem à memória um poema do Manuel Bandeira, cujo título é Nova poética. Diz o poema, na íntegra:

Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
sai o sujeito de casa com a roupa de brim branco
muito bem engomada, e na primeira
esquina passa um caminhão, salpica-lhe
o paletó de uma nódoa de lama:
é a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.

Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as
virgens cem por cento e as amadas que
envelheceram sem maldade.

Querida leitora. Se você for ler A metamorfose, do Kafka, vais ficar mais familiarizada com os insetos... No caso do Kafka, o personagem vive o drama de ter-se transformado numa barata! A essa literatura muito é comentado... Pode ser chamada de realismo fantástico, ou surrealismo. Está muito próxima da psicanálise, a “ciência do inconsciente”. Um grande escritor da atualidade, Gabriel Garcia Marques, vai nessa direção, por exemplo, nos Cem anos de solidão. Embora seja complicado enquadrar esses ícones da literatura em alguma escola, ou teoria...

Mas não pense que o TECO esteja se colocando à altura daqueles que citou. Ainda estou na fase de brincar com as palavras, como fazem as crianças... Aliás, enquanto pequenas as crianças não tem medo/nojo dos insetos, aprendem a ter medo com os marmanjos... De qualquer maneira, como fez o Kafka, em que seu personagem tinha uma vida “de inseto”, a literatura (ou toda a nossa vida?) lida muito com as metáforas e as alegorias, inclusive as imagens que usamos.

Aliás, O MUNDO DAS IMAGENS que perpassa nossas vidas necessita de uma reflexão mais aprofundada. Recomendo que você leia o Zero Hora de domingo, 30/11/2008, as reportagens do caderno Donna, que falam que fotografar e filmar viraram mania cotidiana.

O que isso significa, nos dias de hoje?
Vou dar um exemplo que vivi, dias atrás. Estava numa apresentação do colégio onde estuda meu filho, quando as crianças e professores fizeram lindas apresentações artísticas para os pais e comunidade em geral. Enquanto as crianças faziam suas apresentações, muitos pais (havia mais de cem máquinas em punho!) faziam malabarismos para obter a melhor imagem, melhor ângulo – o de seus filhos, é claro! Na hora fiquei me perguntando se eles estavam DESFRUTANDO algum prazer estético com o que assistiam, ou se desejavam apenas registrar para o futuro aqueles momentos. Fiquei pensando se eles não confiam na memória, têm medo de esquecer o que viram...

Leio o texto da Martha Medeiros, no caderno que citei acima, e ela fala mais ou menos isso. “Se você não documentar suas experiências e emoções, elas deixam de existir? Você deixa de existir? Não deveria, mas dá a impressão que sim.”

Aposto muito mais nas imagens que se tornam fortes lembranças, por causa da emoção e sentimento que vivi, quando dei de cara com elas. O que vemos, de maneira intensa, até brutal, é a BANALIZAÇÃO da vida, através da imagem. Exemplos: as tragédias, como a morte da menina que foi jogada do apartamento, em S.P. e, agora, das enchentes em Santa Catarina. Creio que o mais importante não é a imagem em si, mas o fato de vive-las com sensibilidade e, principalmente, podermos interpretá-las... Eis aí o grande desafio... A propósito, essa enxurrada de fotos das tragédias em Santa Catarina despertam nossa sensibilidade para a SOLIDARIEDADE, que é algo fundamental nos dias de hoje, onde há intenso narcisismo? Além das questões ambientais e de organização dos espaços geográficos/urbanos (tanta população ocupando as margens dos rios são um apelo à tragédia, mais cedo ou mais tarde)...

Como poeta sonhador, persigo a imagem poética, que são as metáforas e alegorias, e aí até as baratas podem posar pra foto!

Abraço do TECO.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

MATA-MOSCAS



Minha tia comprou
um mata-moscas
no “Um e noventa e nove”.

Renova-se
a cada
inseto
decepado.

Chicoteia o ex-marido
a vizinha fofoqueira
o funcionário da prefeitura.

Não perde a paciência
se ficar horas a fio
na tocaia dos insetos
pelos cantos escuros.

No verão a cidade
Recebe os turistas.
As baratas saem dos esgotos
e são apresentadas à minha tia.

Ela diz para seus netos
que os insetos
são os maestros
da orquestra
da família!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

AGENDA


Nesta sexta-feira, dia 28/11/2008, a Turma do TECO estará no município de Cerro Largo/RS, na escola E. E. F. Eugênio Frantz, com bate-papo com o Autor Américo Piovesan, oficina de música (com o Guerrinha) declamação de poemas e performance teatral do poersonagem TECO (com a atriz Eloisa Borkenhagen). Na proxima semana postaremos comentários e fotos.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

NÃO TENHO TEMPO


Não tenho tempo
pra ler teus bilhetinhos
nem pra responder
a perguntas impossíveis.

Queres saber
se choro,
rio ou não ligo
pro Bob Esponja,
Branca de Neve
e os Três Porquinhos?

Se torço pro bandido
ou pro mocinho?

Quero saber, apenas,
se hoje tem futebol...

Não tenho tempo
pra tirar
tuas dúvidas teimosas,
nem pra curar
teus finiquitos...

Tenho tempo apenas
para abrir as cortinas
olhar pela janela
e me esconder nas esquinas!

sábado, 22 de novembro de 2008

MEU NOME


Meu nome
é uma sombra
que me persegue
por onde vou...

Teimoso,
faço de conta
que me escondi
e que não estou nem aí...

-
TECO!

Fico zonzo
quando me chamam...
É a surpresa
de um grito
no ouvido...

Culpada
é a sombra
que espreita
atrás da moita!

Com essa sombra a reboque
arrasto a vida e sonho
ator, jogador de futebol,
escritor, desenhista,
motorista de caminhão...

Comigo cresceu
comigo saiu do mato
gritou e silenciou
até se acostumar
com o chamado
dos outros.

-
TECO!

Às vezes estranho
ouvir o eco do meu nome.
Deve ser porque estranho
o mundo que me cerca.

Hoje até gosto
que meu nome
- igual cascata de rio -
salpique e regue
a vida ao seu redor...

Meu nome
minha sombra
meu carimbo
é sonâmbulo
e grita
e ecoa
e berra
e alerta
até que, finalmente,
meu anjo da guarda
- destrambelhado -
desperta!

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...