domingo, 19 de outubro de 2008

É PROIBIDO FUMAR


De todas as placas de proibido, a que eu não agüento mais ver é a de “é proibido fumar”. É que minha mãe fuma duas carteiras de cigarro por dia. Isso depois que o cardiologista prensou ela contra a parede, dizendo que, se ela continuar fumando desse jeito, vai virar um esqueleto ambulante.


Aquelas fotos horripilantes nas carteiras de cigarros, colocadas pra apavorar os que fumam, não me comovem mais.


Desenhei no caderno, dia desses, um esqueleto com cabeça de caveira, com um cigarro na boca. Mas não dei nome ao meu personagem.


Justamente naquele dia minha mãe me ajudou a fazer o tema de casa. Ela sempre elogia meus desenhos. Não dessa vez.


Todos os dias ela acorda no meio da noite e vai fumar na área de serviço. Basculante entreaberta, mão esticada pra fora, cigarro entre o “fura bolo” e o “pai de todos”, tragadas e mais tragadas.


Não estou mais ligando pra essa história de que o cigarro faz mal pra saúde, embora minha tia não agüente mais levar minha mãe ao pronto-socorro, pra baixar sua pressão, que de vez em quando fica a mil.


Ontem acordei e fui ao banheiro. A cena me marcou: minha mãe fumava, escorada na janela. Deu uma tragada profunda, e um clarão iluminou seu rosto.


Era a caveira que eu tinha desenhado no caderno.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

MÁRIO QUINTANA


Descobrir continentes é tão fácil
como esbarrar com um elefante:
poeta é o que encontra
uma moedinha perdida.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

POMBA SURFISTA

Nunca
teve
grilos
e minhocas
na cabeça

nunca
teve
medo
de sair
do chão

sim-ples-men-te
a pomba
surfava
sobre o fio
de alta tensão!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

MOSTRA LITERÁRIA E PEDAGÓGICA

IMEAB – Instituto de educação Assis Brasil – Ijuí/RS - MOSTRA LITERÁRIA E PEDAGÓGICA – de 07 a 14 de outubro de 2008.

Na abertura da mostra, dia 07/10, às oito horas da manhã, o professor e escritor Américo Piovesan proferiu palestra tematizando o tema MOTIVAÇÃO PARA A LEITURA. ...

A seguir, na biblioteca da escola, todas as turmas, de terceira série até a sexta série, participaram de oficina com o escritor Américo e com o músico Guerrinha. Houve a declamação de poemas, contação de histórias e muita música. Foram mais de 450 alunos interagindo e vendo o quanto a leitura e a escrita (poético-literária) fazem parte de seu dia-a-dia.
Aproveitamos para agradecer à direção, coordenações e professores pela oportunidade. Ano que vem haverá muito mais!

NÓS

Quando você menos espera, os cadarços do sapato se desatam. É um embaraço breve e passageiro, e não perdemos a máscara, como acontece quando nos olhamos no espelho, no banheiro de uma festa, e não conseguimos disfarçar olheiras e pés de galinha, e aí resta o apelo à embriagues ou sair de fininho.
No lance decisivo, na hora de evitar o gol, ou no contra-ataque, ao tentar fazer um gol de letra, o cadarço da chuteira se solta, e passamos batidos. Resta lamentar e, da próxima vez, sem distração, mudar o jeito de fazer o nó.
Os cadarços precisam estar bem amarrados, a cara não. Amarremos casas, instrumentos, ferramentas, e liberemos os sentimentos. Mas quantos fazem confusão, e invertem a ordem!
As obras concretas precisam de liga, de ferro, para não serem levadas pelo vento. As amizades precisam de laços para nos aproximar uns dos outros.
Existem nós que nos prendem aos outros que precisam ser desamarrados. São fraquezas, medos, timidez. Não, não somos uma ilha, pertencemos a uma teia de relações. Cabe refletir sobre a liberdade de ir e vir em meio a essa teia.
O amor não deve amarrar a paixão. Nossas vidas, sem paixão, não têm combustão, não têm arranque, como carro velho com bateria pifada.
Amor convencionado é como sapato apertado, e os calos doem cada vez mais. Quando voltamos para casa, a primeira coisa que fazemos é tirar os sapatos e as meias, e colocamos os pés sobre a cadeira.
Pena que o alívio e o prazer ficam entre quatro paredes.
Amor que se satisfaz com as regras tem medo da paixão, é gravata que usamos de vez em quando, e nos sufoca porque não estamos habituados.
Afrodite, deusa do amor, livrai-nos das amarras sociais, que nos fazem desfilar o amor e a paixão numa ordem unida, para um futuro pré-determinado que não escolhemos.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...