da árvore
os pássaros
se acotovelam.
A noite
é um hotel
cinco estrelas.
Passa por todos os corredores e gôndolas, observa atentamente a composição dos produtos - validade, quantidade de gordura, se são orgânicos, etc. etc.. Pra isso, ele procura os óculos de uns quatro graus, no estojo guardado no bolso. Mira, vira, desvira, olha contra a luz, a tarde passa voando, e eu ainda nem joguei bola!
Começam os acidentes e o congestionamento nos corredores... Monstrinhos de quatro, cinco anos, pilotando o carrinho de compras de seus pais, passam a toda velocidade, tiram de fininho, derrubam os pacotes das prateleiras!
Senhoras vagarosas, de calculadora mão, fazem das compras no supermercado o passeio de sua vida! A calculadora é a arma que usam para espantar o monstro da inflação!!
Legal são as promotoras de vendas. Desde erva-mate até chazinho pra bebê. Meu pai não fica provando tudo, só porque é de graça. Mas meu tio, Carola, sim. Prova fermentado de uva, suco de goiaba, queijo, salame... Depois, ele fica apertado e vai voando pro banheiro do supermercado!
Se eu me perco do meu tio, é só ir direto pra sessão de vinhos, que lá está ele. Parece um especialista... Pesquisa os rótulos, o ano da safra, se é cabernet ou merlot... No final, ele compra um “sangue de boi”, um daqueles vinhos baratos que nossas mães usam para fazer sagu!
Como sou poeta sonhador, observo todos os detalhes do rostinho de minhas caixas preferidas. Acho que o meu pai nem desconfia. Está estressado com o monstro da inflação, que anda louco pra abocanhar o seu sagrado salário – é o que o meu pai diz!
Dia desses, no campeonato de pais do colégio, meu pai perdeu a chave da moto. Ele costuma guardá-la no bolso da calça. Diz que é mais seguro, que assim não vai perdê-la, e blábláblá...
Fardou-se no vestiário, carregou a mochila e as roupas até o banco de reservas e foi fazer seu aquecimento. Perdeu o jogo por 6X2, saiu mancando por causa de uma pancada na canela, tomou meia garrafa de água, gargarejou e cuspiu, juntou a mochila e suas roupas, passou pela torcida na arquibancada, levou vaia e foi, cabisbaixo, se vestir no vestiário.
Pôs a mão no bolso e... Nada! “- Tenho certeza de que guardei no bolso! Sempre foi mais seguro!” Revira a mochila, de seis compartimentos, tira pra fora as coisas todas que ele carrega - caneta, clips, trident, lenço pro nariz, aspirina, band-aid, três celulares, sendo dois pifados que eu uso para jogar, cartões de amigos, bilhetes com recados, óculos para o sol, protetor solar, etc., etc., etc. – e nadica da chave!
Refaz, então, o percurso para ver se não está caída no chão, fala com o guarda, chama a atenção de meio mundo... Aí, antes que eu fique vermelho de vergonha, resolvo ajudá-lo...
No cantinho mais escuro do vestiário está a chave, sossegadinha no chão. Meu sexto sentido farejou a maldita!!
Depois de rir meio amarelo e dizer que esquecimento é coisa da idade, papai me chamou de “meu herói” e me deu um beijo na testa!
Ufa! Ainda bem que não foi na arquibancada, na frente de todo mundo... Foi na penumbra do vestiário, e só o guarda viu a cena! Ele fez uma cara de feliz. Coisas de pai!
Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...