terça-feira, 15 de janeiro de 2008

CAMPEONATO


Manoel de Barros

do livro "Fazedores do amanhecer".


Nos jardins da Praça da Matriz, os meninos
urinavam socialmente.
A gente fazia campeonato pra ver quem
mandava urina mais longe.
O menino que mandasse mais longe era
campeão.
Mas não havia taça nem medalha.
Umas gurias iam ver por trás dos muros
a competição.
Acho que elas tinham alguma curiosidade
ou inveja porque não podiam participar
do campeonato.
Os meninos ficavam sérios como se estivessem
defendendo a pátria naquele momento.
As meninas cochichavam entre elas e
corriam de lá pra cá, rindo.
O campeonato só era diferente da Fórmula Um
porque a gente não tinha patrocinadores.

O PENICO DA FLORISBELA

Vou contar
uma história
que ouvi
do tio Carola.

Ele disse que antigamente
um penico embaixo da cama
era muito importante.


Um dia ele conheceu uma donzela
que chamava Florisbela.
Ela era graciosa e delicada
Porém, meio... meio desleixada!

Naquele tempo o banheiro
ficava do lado de fora da casa,
e ela tinha medo do escuro
e dos fantasmas
disfarçados de morcegos
que moravam pendurados
no forro do banheiro.


De madrugada as horas
ficavam apertadas
e Florisbela corria pro lado
do penico esmaltado...

De manhã
o xixi voava
pela janela!


De vez em quando Florisbela
perdia a memória
e junto com o xixi
o penico fazia história
porque também voava
janela afora!

Tio Carola não soube responder
às perguntas que eu lhe fiz,
por isso eu peço ajuda a vocês:

se Florisbela esquecia daqui e dali,
não esquecia também de fazer xixi?

Quando ela estava “apertada”,
quem acordava ela?
O seu anjo da guarda?

Quantas vezes ela acertou xixi
no cachorro Berinjela
que dormia debaixo
da janela
do quarto dela?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

BIG BROTHER

É uma noite morna de janeiro
e um bando de marmanjos
distrai-se olhando TV.

Meu big brother
é o céu estrelado
que faz companhia
pra lua e as Três Marias.

Meus olhos vêem tanto mistério
quanto o número de estrelas,
muito mais do que possam captar
as lentes da novela.

Persigo palavras
para rabiscar um poema,
mas a ponta do lápis
se quebra e, zangado,
rasgo o papel...

Enquanto isso,
no quintal,
grilos de avental
acendem pirilampos
para me alegrar!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

A casa, de Vinicius de Moraes


Poema A casa, de Vinicius de Moraes, do livro Palavra de poeta.

Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.

A viagem de um barquinho, de Sylvia Orthof

Era uma vez um menino
chamado Chico Eduardo,
que perdeu o seu barquinho
feito de papel dobrado.
Seu barquinho de jornal,
tal e qual.

E era uma lavadeira,
meio doida e engraçada,
que foi lavar sua roupa
num lugar, assim, sem água.

Um lugar de varal branco,
tudo branco ao seu redor.
Não tinha azul de rio?
Que horror!

- Tudo branco, branco, branco,
assim eu não lavo nada!
Preciso de azul de água,
cadê a cor azulada? –
disse a doida lavadeira,
nervosa e apressada.

- Vou inventar o meu rio
do azul de um longo trapo,
vai ser rio de brinquedo,
lindo rio de farrapo!

De dentro da sua trouxa
puxou um rio de pano.
o rio saiu pulando
em busca do oceano.

O barquinho do menino
viu o rio inventado,
saiu, fugindo-se embora,
sem demora!
(...)

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...