segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

A casa, de Vinicius de Moraes


Poema A casa, de Vinicius de Moraes, do livro Palavra de poeta.

Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.

A viagem de um barquinho, de Sylvia Orthof

Era uma vez um menino
chamado Chico Eduardo,
que perdeu o seu barquinho
feito de papel dobrado.
Seu barquinho de jornal,
tal e qual.

E era uma lavadeira,
meio doida e engraçada,
que foi lavar sua roupa
num lugar, assim, sem água.

Um lugar de varal branco,
tudo branco ao seu redor.
Não tinha azul de rio?
Que horror!

- Tudo branco, branco, branco,
assim eu não lavo nada!
Preciso de azul de água,
cadê a cor azulada? –
disse a doida lavadeira,
nervosa e apressada.

- Vou inventar o meu rio
do azul de um longo trapo,
vai ser rio de brinquedo,
lindo rio de farrapo!

De dentro da sua trouxa
puxou um rio de pano.
o rio saiu pulando
em busca do oceano.

O barquinho do menino
viu o rio inventado,
saiu, fugindo-se embora,
sem demora!
(...)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

PESCARIA


Poema Pescaria


José Paulo Paes

Do livro Palavra de poeta.



Um homem
que se preocupava demais
com coisas sem importância
acabou ficando com a cabeça cheia de minhocas.
Um amigo lhe deu então a idéia
de usar as minhocas
numa pescaria
para se distrair das preocupações.
O homem se distraiu tanto
pescando
que sua cabeça ficou leve
como um balão
e foi subindo pelo ar
até sumir nas nuvens.
Onde será que foi parar?
Não sei
nem quero me preocupar com isso.
Vou mais é pescar.

MINHOCA NA CABEÇA

Ficar com minhoca na cabeça é ficar desconfiado, é suspeitar que alguma coisa ruim vai acontecer, é ficar inseguro achando que alguém está contra a gente. Pode ser também ficar imaginando coisas, fazendo fantasias de qualquer tipo. Juliana sorriu para Rodrigo. Agora ele anda cheio de minhoca na cabeça. Outro exemplo: o professor disse que ia castigar o Beto. Agora ele vive preocupado, cheio de minhoca na cabeça.
Ricardo Azevedo, do livro Bazar do folclore.

Poema Minhocas na cabeça, de Marcelo R. L. Oliveira. Do livro Nós e os bichos.

- Seu doutor, estou grilado,
meu pé está formigando.
É algo grave ou estou procurando
sarna pra me coçar?
- Já lhe digo o que é:
tire as minhocas da cabeça,
é só um bicho de pé.

DESFILE

O sol resolve
tirar uma soneca
e o céu abre as cortinas.

Começa, então,
um desfile
de nuvens
de algodão.

Cavalos
baleias
jacarés
javalis
dinossauros
tubarões
patos lagartos
macacos leões...

- Depressa, tragam
os lápis de cor...
Antes que o sol desperte,
precisamos colorir!

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...