domingo, 18 de agosto de 2019

Acabei meu doutorado há três meses



O Beiço é um cara estranho. Some por um tempo, mas quando aparece traz matéria-prima pra minha literatura. O que aconteceu com Ele dessa vez desandou no surreal.
Estava deitado no sofá, pensando, pensando na Deby, aquela cretina mais senil do que eu, quando fui despertado pelo inconfundível toc toc na porta. Através da basculante da janela identifiquei seu vulto.
- Beiço, filho da puta, achei que você tinha morrido!
- Calma, Cadelão. Notícias ruins andam rápido.
- Quem disse que tua morte é um episódio ruim, seu infiel?
Ele sorriu. Invadiu meu cafofo e, como sempre faz, abriu a geladeira. Sacou uma lata de cerveja, me alcançou outra, e gemeu, no que parecia um brinde: "Ao despotismo da verdade!" . Não pude beber toda a cerveja sem que aquela enigmática frase "reacendesse" em minha mente.
- Abra o jogo, Beiço - resmunguei.
- Cadelão, fui humilhado filosoficamente por uma putinha.
- Conta... Vai...
- Como de costume, estava no puteiro da Janete bebendo com a Janusa. Ele ou Ela, nunca sei como usar os pronomes pra aquele traveco. Mas esse não é o ponto. Estávamos ali sugando ceva e jogando conversa fora quando passou uma belíssima. Pareceu que não tinha mais de vinte anos. Janusa me espiou, sacou que eu me interessei, e chamou a garota. "Beiço, essa é a Catherine, uma delícia, chegou ontem e passamos a noite trepando. Tem a bocetinha dos meus sonhos".
Não entendi se Janusa queria ter uma xoxota semelhante ou sempre sonhou foder uma boceta daquelas. Mas Cadelão, isso "that's beside the point".
Claro que topei ir pro quarto com a putinha. Janusa me puxou prum canto. "Ela quer cheirar, primeiro". Entrei na onda daquele traveco filho da puta. Fui até o carro e peguei uma bucha. Combinei o preço na frente da Janusa. Não entendi por que a garota fez questão de combinar os valores com o traveco. Fechamos o programa em cento e cinquenta reais.
Fomos pro quarto. Ela tirou a roupa. A Dela e a minha. Bebemos e cheiramos como de costume. Me empolguei no pó. Cheiramos tudo. Aí Ela partiu pro boquete. Adivinha, Cadelão...
- Broxou?
- Sim, broxei. Mas, como sempre, eu queria remediar meu fiasco, pelo menos passar a mão, massagear  seu clitóris.
Aí Ela veio com essa: "Eu gosto de cacete". "Meu amor, meu dedo faz milagre". "Meu bem, se o teu dedo fosse maior que o teu pau, o que não é coisa difícil de acontecer, mesmo assim seria... um dedo! A distinção não está apenas nos termos, mas na coisa em si. Isso é elementar até para uma criança". "Pronto, uma putinha filósofa!" "Sim. Acabei meu doutorado há três meses". "Caralho! Que idade você tem?" "Vinte e seis". "Hum... Só falta dizer que se especializou em Nietzsche". "Em Burke, Edmund Burke". "O quê? O cara da filosofia moral conservadora?". "Isso, meu orientador conseguiu uma bolsa... desde que...". "Sei, sei. Você fodeu com Ele". "Muito. Mas ultimamente o cretino ficou meio broxa, igual você, por conta do estresse com sua esposa". "Jesus Cristo! Cada coisa que eu vejo. Vou ter que contar pro meu brother, o Cadelão". "Quem é Cadelão?". "Um maluco que foi professor de filosofia. Pelo menos é o que ele diz. E que foi demitido por apresentar problemas com álcool. Mas, me conta, como foi esse grande salto... de doutora em filosofia até o puteiro da Janete?". "Sabe o livro 'A vida sexual de Catherine Millet'? Pois é, inspirado Nela estou colocando em prática minha liberdade sexual...".

Foi isso, Cadelão. Logo depois que a garota começou a me empanturrar com suas ideias sobre a liberdade sexual das mulheres, o que ainda é um privilegio para poucas, e falou da francesa Catherine Millet e sua contribuição para mudar a visão que as mulheres têm sobre seu corpo e blá-blá-blá, correndo me vesti e aqui estou. Ao sair do quarto vi o traveco. Bastou eu sair pra Ele (ou Ela, nunca sei) adentrar. Ficaram com os cento e cinquenta e o restinho da minha honra. Dessa vez broxei com uma doutora. Quem disse que isso seria impossível?
- Caramba, Beiço, isso não pode ser real... Cerveja, me passa uma cerveja!

(B. B. Palermo)

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